Porto Extravaganza 2018 (5ª Edição) – Parte 2
Palácio de Seteais, Sintra
Parte 2: Moscatéis de Setúbal José Maria da Fonseca por Domingos Soares Franco 1911-2014
O Bar do Binho House of Port, casa clássica em Sintra, liderada por Paulo Cruz, figura carismática no mundo do vinho português, tem o agradecimento de todos nós, interessados neste mundo do vinho, por ter tornado, aparentemente, o Porto Extravaganza, num evento anual e desta vez agregando o mundo dos generosos, portos, madeiras e moscateis de Setúbal, num único fim de semana épico, extraordinário e único.
Parti para este dia dedicado aos moscateis de Setúbal de José Maria da Fonseca, com grande entusiasmo e até um pouco de ansiedade. No entanto sabendo de antemão, os néctares presentes em prova, estava convicto de que seria uma prova fantástica e única.
No entanto, pairava o fantasma do dia anterior, que seria muito difícil fazer esquecer esse dia épico de se provar madeiras de outro mundo apresentados e comentados por essa figura incontornável da história do vinho madeira, Ricardo Diogo da casa Barbeito.
Não tendo supostamente o à vontade e descontracção de Ricardo Diogo, até pela mais jovem idade deste, talvez, Domingos Soares Franco surgiu um pouco mais formal, mas de modo nenhum, menos interessante, até porque a história da casa José Maria da Fonseca, percorre-lhe as veias e as suas vivências e experiências, só nos enriquecem pelo que degustámos as suas palavras com apreço e agradecimento.
Antes da prova comentada, então por Domingos Soares Franco, Paulo Cruz apresentou o seu convidado, que na organização da prova temática não estabeleceu qualquer critério de escolha dos vinhos em prova e que, seria o orador a ter a liberdade de nos surpreender com a lista de vinhos que melhor se enquadraria num evento como este.
Deu-se então inicio á prova comentada por Domingos Soares Franco, que começou por nos dizer que a casta moscatel Setúbal terá sido trazido de Alexandria no Egipto pelos Cavaleiros da Ordem de Malta no século XIX.
Passemos então à descrição dos vinhos em prova:
Os Vinhos:
// MOSCATEL SETUBAL TORNA VIAGEM 2014 TESTEMUNHA
Os vinhos Torna Viagem terão sido inventados pelos noruegueses, levando vinhos em cascos de carvalho nas suas viagens.
A José Maria da Fonseca tem recriado estas viagens com alguns cascos a bordo, aqui de moscatel roxo, com a colaboração da Marinha Portuguesa, nomeadamente do Navio Escola Sagres, sendo que, por meio de comparação se encontra nas suas caves um casco que não faz essa viagem , o chamado, testemunha, para poder avaliar por comparação, alterações significativas ou não, dessas mesmas viagens.
Este moscatel Testemunha apresentou-se com um aroma agradável a mel e a casca de citrino, na boca, harmonioso, elegante, evidenciando equilíbrio e frescura. Um moscatel roxo agradável mas sem grandes pretensões.
Classificação: 15v
// MOSCATEL SETUBAL TORNA VIAGEM 2014 – BRASIL
Domingos Soares Franco revela-nos que na sua viagem para o Brasil atravessando o Equador, no ano de 2015 e tendo regressado em 2016, por meio da humidade, salinidade, balançar dos cascos no mar e alterações bruscas da temperatura, por vezes á volta dos 50 graus centígrados ao longo da viagem, permite uma evaporação de 3% e um envelhecimento, cerca de 15 a 20 anos o que nos dará certamente diferenças significativas para o Testemunha.
De facto, pudemos comprovar sem qualquer duvida essa diferença, uma vez que se apresenta um moscatel, com uma cor mais escura, mais evoluído, salino mesmo no aroma, muito agradável, mais mel, doçura muito elegante, o mais elegante dos 3, mais harmonioso, num conjunto com uma excelente evolução em comparação com o moscatel Testemunha .
Classificação: 16.5v
// MOSCATEL SETUBAL TORNA VIAGEM EUA
Este moscatel, viajou corria o ano de 2017, no entanto, revela poucas diferenças em relação ao Testemunha, sendo que, se apresenta mais turvo, com depósito, mas sem aquela salinidade característica do Torna Viagem Brasil que o torna realmente diferente.
Classificação: 15v
// MOSCATEL SETUBAL COLECÇÃO PRIVADA DSF ARMAGNAC
Foi em 1998 que Domingos Soares Franco, usando uvas da mesma vinha resolveu, fazer vinho moscatel, parando a fermentação com 4 diferentes aguardentes, uma neutra, uma da região francesa de Armagnac, outra da região francesa de Cognac e a quarta com 50% das duas ultimas, curiosamente o moscatel com armgnac ou cognac ainda se encontra ilegal neste pais.
Aroma muito frutado, laranja, mel, fruto seco, de grande complexidade na boca, muito elegante, redondo, macio, terminando com frescura e persistência. nectar de grande nível.
Classificação: 17v
// MOSCATEL SETUBAL DSF COGNAC
Fermentação parada com aguardente da região de Cognac, dá-nos um vinho igualmente de grande nível, no aroma um pouco mais citrinico, na boca, igualmente redondo, macio, mas um pouco mais alcoólico, com final fresco e persistente.
Classificação:16,5v
// MOSCATEL SETUBAL ALAMBRE 20 ANOS
Este moscatel tem origem num lote de 19 colheitas, tendo 20 anos a mais nova e 80 anos a mais velha, de cor âmbar, complexidade aromática de fruta tropical e mel (neste moscatel não foi adicionado caramelo), na boca elegante, apesar de se notar um pouco o álcool com um final longo. Belo moscatel.
Classificação: 17v
// MOSCATEL SETUBAL ROXO 20 ANOS
Lote de 4 colheitas, a mais nova tem 23 anos e a mais antiga 80 anos. Especiarias no aroma, paladar concentrado e muito frutado, notas de laranja e caramelo na boca, revela mais doçura e mais jovialidade que o anterior, redondo, muito suave, final prolongado.
Classificação: 17,5v
// MOSCATEL SETUBAL APOTECA 1911
Vinho engarrafado na semana anterior ao evento, de cor castanho escuro, brilhante, de intensidade profunda, nariz limpo, aromas muito complexos a frutos secos e especiarias, na boca muito doce, a notar-se o mel e um caramelo fantástico, de acidez elevada, mas com uma finura, delicadeza, e elegância inolvidável.
Classificação: 18.5v
// MOSCATEL SETUBAL SUPERIOR 1955
Foram feitas apenas 150 garrafas de 50 cl, engarrafado há 3 anos e na opinião de Domingos Soares Franco constitui a melhor colheita de moscatel já alguma vez realizada.
Rapidamente percebemos o porque da sua afirmação, na cor muito castanho, ainda mais escuro que os anteriores, aroma muito complexo e equilibrado, em termos de estrutura, doçura e acidez, com extraordinária frescura na boca que equilibra a doçura natural e concentração que o vinho tem. No fim o prazer de provar algo inesquecível
Classificação: 19v
// MOSCATEL SETUBAL TRILOGIA 1900-1934-1965
Para celebrar o novo século e o novo milénio foi criado o moscatel trilogia, uma edição rara e especial, resultado da combinação de 3 grandes colheitas do século XX, escolhidas pelo enólogo Domingos Soares franco.
O trilogia é limitado a 2400 garrafas, 1200 litros colocados no mercado em Outubro de 1999.
De inicio fulgurante com um aroma de outro mundo, super complexo e de grande intensidade com notas de frutos secos, paladar igualmente complexo, doce, frescura (vinagrinho) e muito prolongado.
Classificação: 18.5v
// BASTARDINHO 40 ANOS 50 cl
Durante muito tempo fizeram o Bastardinho de 25 anos, mais tarde surgiu o 20 anos e por envelhecimento das bases a seguir o de 30 anos.
Não se conseguindo manter o perfil do 30 anos avançou-se para o 40 anos.
Este vinho, é um blend constituido por diversas colheitas, sendo a mais nova de 40 e poucos anos e a mais velha á volta de 80 anos, são os últimos 2300 litros do Bastardinho de Azeitão, mesmo sabendo que a José Maria da Fonseca plantou em 2005 meio hectare da casta Trousseau, num futuro próximo será difícil produzir um néctar tão sublime quanto este.
Provém de vinhas da casta Bastardo (Trousseau) que existiam entre a Costa da Caparica e o Lavradio, tendo sido arrancadas, devido ao crescimento urbanístico. Nessa altura, em 1983, receberam a ultima tonelada de uvas provenientes de uma destas vinhas, com cerca de 90 anos, com um potencial de álcool de 18 graus que veio a originar este néctar.
De cor âmbar, muito carregada, aroma fabuloso de notável complexidade aromática, extremamente frutado a frutos secos, figos, mel e especiarias, com subtileza, elegância e de grande equilíbrio.
Na boca, bela frescura vinagrinho, extraordinário corpo, cheio, complexo e com notável persistência final.
Extraordinário.
Classificação: 19v
NOTAS FINAIS
- Obrigado ao Paulo Cruz, amante inveterado de vinho do Porto, por ter aberto a porta do Bar do Binho House Port, ao moscatel, o que possibilitou, uma prova que pôs o Moscatel lado a lado no céu, junto com o vinho do Porto e Madeira, como nectares sublimes, extraordinários e inesqueciveis.
- O Local do evento, rico em história, encanto e beleza, tornou o evento mágico e inolvidável.
- Para os wine4people o Moscatel Roxo superior 1955 e o Bastardinho 40 anos são os grandes vencedores desta prova, elevando o moscatel a nectares de outro mundo.
- A organização do Paulo Cruz e equipa, eficiente, atenciosa, generosa e apaixonada.
OBRIGADO
M.B. w4p (MAR 2018)
