Foi com expectativa e até alguma surpresa, dada a data, em pleno período da Páscoa, que a família Mota Capitão, nos aceitou receber nesta propriedade a 17 km de Santiago do Cacem, e no extremo sul  da região demarcada da península de Setúbal.

Após cerca de duas horas de viagem, chegámos á Herdade do Cebolal e tínhamos já á espera, Luís Mota Capitão, conhecido cirurgião vascular e Luís Mota Capitão filho, produtor e enólogo desta casa.

Foi com reconhecido orgulho que o primeiro nos fez a introdução sobre a história familiar desta casa e como foi gerida ao longo do tempo, centrada sobretudo na produção de vinho.

A Herdade do Cebolal está na posse da família, desde há cerca de 150 anos, desde que, Caio Loureiro, bisavô de Isabel Capitão, um homem culto, professor, beirão, da localidade de Cebolais de Cima,  em Castelo Branco, rumou a Santiago do Cacém, nos finais do século XIX.

Foi em 2008 que a família Mota Capitão, constituída pelo casal e pelos 4 filhos entre os quais o Luís, herdou a propriedade, onde já se produzia vinho há acerca de 120 anos e continuou esse ADN vinícola.

Isabel e Luís Capitão, mãe e filho, quarta e quinta geração, são os actuais  responsáveis deste projecto.

Luís Mota Capitão leva nos então para uma parte das vinhas e este sendo ao mesmo tempo produtor e enólogo residente, surpreende pelos conhecimentos que apresenta, não possíveis por apenas uma licenciatura em enologia, mas  estudioso numa procura pessoal, na formação também ela, da agricultura vinícola, em toda a sua integração global, vinha, solo, floresta, fauna ,flora e meio ambiente envolvente.

Vê-se ser um jovem com muitos conhecimentos e já alguma experiência, com um projecto que pretende ser, ambicioso, biológico e integrado.

Entretanto juntam-se a nós a restante família Mota Capitão, futura esposa do enólogo, irmã e Isabel Mota Capitão, comprovando se ser uma empresa fortemente familiar e com orgulho nisso.

A propriedade da Herdade do Cebolal é constituída por cerca de 85 hectares , 20 de vinhas e 65 hectares, são de floresta  e prado para gado ovino.

Luís Capitão explica-nos que toda a herdade é centrada na produção de vinho, sendo que a unidade de apicultura, a floresta na propriedade e as ovelhas existentes, fazem também parte desse objectivo, ora usufruindo as vinhas da aromatização pela polinização das plantas existentes, ora pela fixação benéfica da fauna na floresta existente e bem como pelo adubo natural deixado pelas ovelhas que passeiam livremente por entre as vinhas e os prados, comendo as ervas. Tudo isto faz parte desse projecto agrícola, com uma filosofia ecológica, amiga do ambiente e procurando ser globalmente sustentável.

Outro dos projectos que nos fala, iniciado há 3 anos, sendo consequência de uma parceria para o uso de algas como fertilizante para a vitivinicultura, é o de colocar no fundo do mar de Sines, a cerca de 15 e 20 metros, lotes de garrafas de vinho tinto e branco a estagiarem durante 1 ano uma vez que o tempo de envelhecimento é maior no mar do que em terra.

Outra das curiosidades deste projecto será o facto de não haver rótulos, sendo este formado pelas substâncias agregadas a cada garrafa aquando no seu processo do mar o que as pode tornar peças de colecção bastante interessantes.

Quando a família tomou conta da herdade, cedo percebeu que teria de aumentar a produção para o seu projecto ser sustentável.

Uma vez que a herdade se encontra entre o Alentejo atlântico e Setúbal, plantaram castas, que melhor se adaptariam ao terreno, castas com carácter atlântico, como o Arinto, Roupeiro, Castelão e Aragonês, de Setúbal, Fernão Pires e Boal, dando vinhos com mais acidez e frescura, castas resistentes à humidade, como o Manteudo, o Encruzado e a Touriga nacional e castas muito presentes no Alentejo, dando vinhos com mais complexidade, mineralidade e longevidade como o Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon.

Estas adaptaram-se bem aos solos e clima, tendo a herdade cerca de 25 castas, 12 solos e 5 microclimas diferentes, os seus vinhos procuram expressar ao máximo as características da região e do terroir com o mínimo de intervenção humana, sendo assumido por Luís Capitão, mesmo sabendo que podem dar origem a vinhos mais difíceis e não tão comerciais.

Efectivamente a constituição dos solos da herdade , em parte calcários, xistosos, a curiosidade do xisto preto que facilmente se parte, e argilosos, presentes em grande parte nos solos desta herdade, dão vinhos com características muito propinas da região, como frescura e caninos, que caraterizam os vinhos da Herdade do Cebolal e os diferencia dos demais.

Após a visita ás vinhas, até para preparar os sentidos para o almoço com provas e vinhos, nada como visitar a adega e provar alguns vinhos. É uma adega moderna, desenhada pela Arquitecta Ribeiro de Carvalho, inclusivamente tendo sido nomeada para edifício do ano na altura pela ArchDaily, na categoria de arquitectura industrial. Possui um laboratório próprio, lagares de barro, cubas de Inox, tendo os seus vinhos a estagiar em barricas de carvalho francês. Da adega faz parte uma loja de vinhos e condições de enoturismo, com todas as condições para por marcação, fazer visitas, provas de vinho, almoços e jantares vínicos e workshops. O não ter alojamento local, tem a ver com o procurar também dinamizar o alojamento local da região e assim contribuir para a economia local.

Como fazendo parte da visita à adega, nada como nos proporcionarem uma prova de vinhos acompanhada de umas tábuas de enchidos, queijos e marmelada que fez as delicias dos convivas, antes do almoço que futuramente partilharemos.

Luís Capitão, na sua generosidade, leva-nos a provar alguns vinhos, ainda não completamente feitos, mas que colocou em nós grandes expectativas.

Da prova constou ainda um:

Herdade do Cebolal castelão branco de uvas tintas do ano de 2017:

Aroma frutado com uma excelente frescura, na boca encorpado mas suave, termina leve e elegante. Um bom vinho, obrigatório provar.

Teor Alcoólico: 12,5 %
Preço: 13,20 euros
Classificação. 16.5 v

  • 16,5 Valores 83% 83%

Herdade do Cebolal Rosé 2017:

 Um vinho chumbado para regional da península de Setúbal por uma razão muito simples, não tem cor rosé, é completamente branco.

Também fresco no aroma, não se nota o adocicado em excesso da maior parte de rosés do mercado, cheio no palato mas redondo, fresco e elegante. Unanimidade nos wine4people, um belo rosé.

Teor Alcoólico: 13,5 %
Casta: Aragonês
Preço: 9 euros
Classificação: 16,5 v

  • 16,5 Valores 83% 83%

M.B. W4P