Prova Cega – Carrocel 2011 e Fortificados

by | Jul 19, 2018 | Vinho | 0 comments

Hoje cheirava a Verão na Costa de Caparica. Fim-de-semana, sol, algum calor, e muita gente nas ruas e na praia… Este ano o Verão parece chegar mais tarde, mas por vezes ocorrem dias como o de hoje…

Os convivas vão chegando. Vamos pondo a mesa e tratando dos copos, das garrafas e dos decanters… A nossa somellier Sofia já está a postos. Podemos começar.

Hoje a prova cega é “mista”: 4 vinhos tintos e 6 vinhos fortificados. Mas, para começar, para preparar o palato, eis um branco, também em prova cega (excepto para mim, que estou a escrever isto, pois fui eu que o levei…):

1836 COMPANHIA DAS LEZÍRIAS GRANDE RESERVA 2015

  • Região: Tejo
  • Tipo: Branco
  • Produtor: Companhia das Lezírias
  • Castas: Fernão Pires
  • Teor Alcoólico: 12.5%
  • Preço: 30€

Um vinho proveniente de uma só casta, mas de vinhas velhas. Cor amarela citrina. Aroma citrico e madeiroso. Na boca é muito equilibrado, fresco, saboroso, médio corpo, com acidez no ponto e final agradável. Não é deslumbrante mas é bom. A nota foi praticamente consensual.

  • 17 Valores

Ora, Álvaro de Castro habituou-nos a experimentar, mas não a desiludir-nos. Não é por acaso que a Quinta da Pellada é um dos parceiros Wine4people. Parceria essa, baseada apenas (nunca é demais referir) na divulgação e na admiração mútua. Por isso, mais uma razão para fazermos esta experiência. De facto, não é habitual um mesmo vinho ter 4 versões, a saber: Carrocel “dito normal”, Carrocel “falso late release”, Carrocel late release e Carrocel Dourado.

Para começar, elucidar que só os 3 primeiros são realmente “o mesmo vinho”. O Carrocel Dourado (do qual normalmente só se fazem 500 garrafas) provém de uma vinha diferente da do Carrocel. São uvas só de Touriga Nacional, escolhidas da vinha velha da Pellada (onde existem inúmeras castas todas misturadas). A vinha do Carrocel é já uma vinha individualizada, velha mas com metade da idade da outra, só com cepas de Touriga Nacional, e que, nas palavras do Engenheiro Álvaro de Castro, lhe proporciona o seu melhor vinho, embora não perceba porquê…

Assim, o Carrocel dito normal, teve o seu estágio habitual, foi engarrafado algures em 2013, fez o seu estágio em garrafa e foi para o mercado. Tudo normal. Mas, nessa altura, foi decidido não engarrafar todo o vinho. Das 5000-6000 garrafas normalmente produzidas por cada colheita de Carrocel, foram feitas menos, pois já tinham a ideia de fazer a experiência e deixar o vinho estagiar mais tempo em pipa. 2 invernos depois, em Janeiro de 2015 é engarrafado o Carrocel Late Release, saindo pouco depois para o mercado, com um preço superior. Mas, no período intermédio, uma nova remessa de Carrocel 2011 sai para o mercado, com um estágio em garrafa muito maior (há quem diga que o vinho desta “2ª remessa” foi engarrado ligeiramente mais tarde). As garrafas saem para o mercado, exactamente com o mesmo rótulo, sendo quase impossível distinguir este “falso late release” do Carrocel dito normal só pela garrafa. Apenas um pormenor as pode distinguir: a cápsula. Nas garrafas da primeira remessa a cápsula é totalmente preta, e posteriormente, foi nesta altura que a Quinta da Pellada adoptou a coloração,nesta casa vermelha, da parte superior da cápsula. As garrafas do dito falso late release já terão esta nova cápsula.

Posto isto, é hora de passar às notas de prova, por ordem cronológica da mesma. De referir que todos os 4 vinhos têm um teor alcoólico de 13% vol. E relembrar que o Carrocel é um monocasta de Touriga Nacional:

CARROCEL 2011 (dito normal)

Aroma químico e mentolado. Na boca é equilibrado, e não tem grande corpo. Elegante, com madeira integrada, e com final não muito prolongado.

  • 17 Valores

CARROCEL 2011 LATE RELEASE

Aroma muito parecido com o anterior. Na boca tem claramente um sabor mais intenso e é mais ácido. É gastronómico, não é tão elegante, e tem um final mais prolongado.

  • 17 Valores

CARROCEL 2011 DOURADO

Aroma agradável, ligeiramente abaunilhado. Intenso na boca como o segundo, mas elegante como o primeiro (ou mais). Final prolongado e agradável.

  • 17.5 Valores

CARROCEL 2011 (dito Falso Late Release)

Aroma menos químico que o primeiro, com a Touriga a querer aparecer. Frutado, elegante, e final com alguma acidez.

  • 17 Valores

CONCLUSÕES:

  • Os vinhos têm de facto um perfil parecido (especialmente o primeiro e o último, como seria de esperar), mas o Dourado foi considerado o melhor, talvez por conciliar intensidade e elegância.
  • O Late Release é de todos, aquele que está claramente para durar… Parece ainda verde… É o mais intenso, e o menos elegante…
  • Apesar de tudo, realçar que esperávamos mais dos vinhos… Até porque costumamos classificar melhor o Carrocel…
  • Em termos de preços: actualmente é difícil dizer, uma vez que os preços estão a aumentar. O Carrocel 2011 custava (em média) 55 euros. A colheita de 2012 veio já a 60 euros. O Late Release custava cerca de 64 euros… Agora já é difícil de o encontrar… E o Dourado ainda é mais difícil de encontrar: a colheita de 2010 esgotou rápidamente (custava cerca de 70 euros); a de 2011 foi a maior parte para a China. E a de 2012 raramente se vê.
  • Em suma: O Carrocel normal talvez já esteja em declínio. O Late Release está para durar. E o Dourado está no ponto.

FORTIFICADOS

Somos um país que talvez tenha a maior diversidade e qualidade de fortificados. Decidimos, de um ponto de vista simbólico, provar (de forma cega) pelo menos um de cada tipo dos fortificados que são feitos no nosso País, sem qualquer tipo de regra ou baliza (preço, ano, etc). Let’s go (também por ordem cronológica):

BACALHÔA MOSCATEL ROXO DE SÉTUBAL 2003

Esteve quase extinta esta casta, mas agora já existe em quantidade razoável na região da Península de Setúbal. Este vinho envelheceu durante 10 anos em pequenos barris de carvalho de 200 litros, previamente usados para a maturação de whisky. Aroma a caramelo e a álcool. Na boca é intenso, muito mel e alguma untuosidade, com final relativamente longo. Pouca frescura e acidez, pelo que apostámos ser um Moscatel não roxo. Teor alcoólico: 19,5% vol. Preço 19,90 euros.

  • 16.5 Valores

CARCAVELOS DOC VILLA OEIRAS

  • Castas: Arinto, Galego Dourado e Ratinho
  • Teor Alcoólico: 18.5%
  • Preço: 29.90€

Será que vamos ver o renascimento deste generoso? Esquecido, produção muito limitada, com as vinhas sempre em risco, dado o seu poderoso predador: a pressão imobiliária! Este vinho foi feito das castas Arinto, Galego Dourado e Ratinho, provenientes de terrenos calcários, com declive a sul e sugeitos a ventos de norte. Envelhecido em barricas de carvalho francês e português por um período de 15 anos. Aroma complexo, a denotar alguma salinidade. Na boca é untuoso, com sabor a caramelo e ervas aromáticas. Final relativamente prolongado. Talvez ligeiramente enjoativo.

  • 16.5 Valores

HM BORGES SERCIAL 1990

  • Região: Madeira
  • Tipo: Vinho Madeira
  • Castas: Sercial
  • Produtor: HM BORGES
  • Teor Alcoólico: 20%
  • Preço: 78€

Cor ambar mais dourada que os anteriores. Cheira a Vinho Madeira sem dúvida: muita salinidade e muito iodo. Na boca tem corpo q.b., é saboroso e final seco com boa acidez . Mais um frasqueira bem conseguido pela HM Borges. Já o tinhamos provado antes. Teor Alcoólico: 20% vol. Preço 78 euros.

  • 17.5 Valores

ALAMBRE MOSCATEL ROXO DE SETÚBAL 2012

  • Região: Setúbal
  • Tipo: Fortificado
  • Castas: Moscatel
  • Produtor: José Maria da Fonseca
  • Teor Alcoólico: 17.5%
  • Preço: 11.30€

Alambre é uma marca clássica da José Maria da Fonseca. Aroma claro e inequivoco a moscatel. Alguma salinidade, menos corpo e final claramente menos prolongado que o primeiro da prova. Algum equilibrio no geral, mas não há dúvida que a complexidade é muito menor em relação ao outro. Mas não deixa de ser agradável. Teor Alcoólico: 17,5% vol. Preço 11,30 euros.

  • 16 Valores

BURMESTER 20 ANOS

  • Região: Douro
  • Tipo: Porto Tawny
  • Produtor: Burmester
  • Teor Alcoólico: 20%
  • Preço: 39.90€

Um Tawny engarrafado em 2007. Cor um pouco turva. Aroma a passas. Na boca é muita passa, pouco fruto seco. O álcool está em evidência. Alguma untuosidade e complexidade, e final bastante razoável.

  • 17 Valores

QUINTA DO VALE MEÃO VINTAGE PORT 2011

  • Região: Douro
  • Tipo: Porto Vintage
  • Produtor: Quinta do Vale Meão
  • Teor Alcoólico: 19.5%
  • Preço: 60€

Um ano mítico para os Portos Vintage. O aroma intenso a frutos vermelhos faz pressentir o que aí virá na boca: um vintage intenso e ainda demasiado jovem. Claramente um néctar para degustar mais tarde.

  • 16.5 Valores

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